Por que sofremos?

Em inúmeras correntes filosóficas, obras literárias, doutrinas religiosas e também na Ciência o sofrimento emocional humano é objeto de indagação. A definição etimológica de “sofrer” se refere à capacidade de suportar, tolerar, passar por. O livro cristão, a bíblia, formador de bases éticas e morais de uma parte da população, encara o sofrimento como uma virtude que eleva o espírito para perto de Deus. Já para o filósofo alemão Friedrich Nietzsche, a dor e o sofrimento não são necessariamente ruins. Paradoxalmente, o filósofo propõe que o “remédio” para a dor é a própria dor. 

Aqui, está fora de questão romantizar o sofrimento emocional. O que precisamos é saber reconhecer o que nos causa dor psíquica, entender em que nível aquilo nos atinge e como podemos encontrar formas de atravessá-la.   

Sentimentos como tristeza, angústia e frustração constituem a estruturação emocional de um indivíduo desde a primeira infância. A forma como somos educados emocionalmente influencia diretamente na maneira com que lidamos com nossos sentimentos ao longo da vida. Muitas vezes, o que precisamos é “trocar de casca”, reavaliar verdades e métodos, ou seja, lançar  constantemente um olhar analítico sobre nós. 

Até assim, uma coisa é certa: sofreremos também nesta busca por sanar sofrimentos, já que precisamos nos desprender e o próprio crescimento é doloroso. Sobre isso, o rabino e psiquiatra Abraham Twerski lança o questionamento: “Como cresce uma lagosta?”.

A lagosta é um animal com uma composição frágil, mas ela vive em uma carcaça muito rígida que envolve seu corpo. Essa casca grossa é muito boa e a protege de ataques. Todavia, é uma superfície que jamais se expande e não se adapta ao crescimento da lagosta, causando assim, grande desconforto. 

Como a lagosta pode se desenvolver num casco rígido, limitado e desconfortável? Twerski diz: o crustáceo escolhe um lugar seguro e nada para debaixo das pedras, onde se liberta do invólucro e espera o crescimento de outro que seja compatível com seu novo tamanho. As lagostas repetem esse processo quantas vezes for necessário, sempre que o desconforto for experimentado por elas. 

Com essa reflexão podemos fazer analogia com os nossos momentos de tensão, estresse e adversidade. Eles podem sinalizar para uma necessidade de reavaliação e mudanças sobre aquilo que nos aprisiona e causa dor. Fato é que a vida é uma alternância de felicidades e tristezas. O psicólogo Cristiano Nabuco pondera: “Muito embora todos nós fujamos da dor e do desconforto emocional, apenas essas situações terão a força e o poder de abrir as janelas de conexão com o que há de mais profundo em nós mesmos.”. 

Enquanto humanos, já entendemos o básico: sofrer faz parte da nossa condição. O que precisamos, a partir disso, é buscar ferramentas para desenvolver nossas habilidades emocionais. E, apesar de ser um processo individual, quase nunca é possível resolver sozinho. Essa constatação atenta para a importância de se buscar um acompanhamento psicoterápico qualificado que auxilie na condução dessas dores. O sofrimento psíquico pode ser progressivo e a sua persistência pode desencadear desequilíbrios neuroquímicos, ocasionando transtornos mentais como depressão, transtorno de ansiedade generalizada, entre tantos outros, que terão indicação de intervenção medicamentosa com assistência do psiquiatra.

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