O luto sem perda: melancolia pode ser traço de depressão

No século IV a.C., o médico grego Hipócrates, considerado o pai da medicina, iniciou estudos sobre a personalidade melancólica e formulou a teoria dos quatro humores. Durante a Antiguidade greco-romana, a palavra ‘humor’ era relacionada a uma coisa úmida, um líquido, ou fluido. Em latim,’humor’ significa bebida ou líquido corporal. Sendo assim, a teoria desenvolvida por Hipócrates considerava 4 fluidos corporais — sangue, fleuma, bílis amarela e bílis negra — como determinantes da saúde do organismo. Se bem humorada, a pessoa estaria com fluidez de bons líquidos em seu interior. Atualmente, a palavra humor indica a disposição da afetividade de alguém. 

O significado primário da palavra melancolia é “bílis negra”, que  corresponde aos fluidos corporais frios e secos. Conforme o entendimento de Hipócrates, as pessoas com excesso de bile negra apresentariam um comportamento marcado pela tristeza e temor, além de olhar fixo no infinito e perda do apetite. Séculos mais tarde, o psicanalista Sigmund Freud descreve a melancolia como um luto sem perda, uma patologia que necessita de tratamentos específicos. 

Hoje, a melancolia pode ser tratada como tipificação de um transtorno de humor. O diagnóstico pode vir na forma de depressão melancólica devido às particularidades em comum aos dois estados. No entanto, eles se diferenciam principalmente pelo grau de intensidade e pelos possíveis sintomas associados. Outro ponto importante é que a melancolia também pode se apresentar como um temperamento, caracterizado pela introversão, grande sensibilidade e tendência ao isolamento, não configurando um problema em si, desde que não ocasione prejuízos sociais, profissionais e afetivos. 

Melancolia, tristeza e depressão

As semelhanças entre melancolia, tristeza e depressão podem confundir um diagnóstico. A melhor forma de diferenciá-los é analisar parâmetros como: duração, intensidade e fatores relacionados.

A tristeza é um sentimento, um afeto derivado da ideia de um mal presente ou idealizado. É uma reação psíquica diante de situações de perda, adversidades  ou frustrações. A duração é de algumas horas ou até poucos dias. Já a depressão é um transtorno em que há alterações neuroquímicas, podendo ou não ter um fator externo motivador. Ela afeta sono, apetite, libido, concentração, conteúdo do pensamento e, se não for tratada, prejudica a vida da pessoa como um todo. 

A melancolia, por outro lado, não teria comprometimento do raciocínio. Esse transtorno é mais especificamente sobre uma tristeza ininterrupta. O envelhecimento, por exemplo, é um fator que favorece o surgimento da melancolia. Quando o sujeito sofre com um acúmulo de perdas de conexões sociais, reflexões sobre sonhos não realizados e frustrações de uma vida pode desencadear um estado perpétuo de apatia, uma melancolia severa que pode levar à depressão. 

Como tratar

O acompanhamento psicoterápico e psiquiátrico é essencial para o rastreio mais assertivo desses sintomas. O tratamento pode envolver medicação para melhorar o humor, mas o acompanhamento com o psicólogo pode fornecer ferramentas para o enfrentamento da melancolia. Uma rotina de atividades físicas, meditação e boa alimentação são também cuidados que colaboram para a manutenção do equilíbrio físico e mental. 

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