Com a pandemia, o mundo, os hábitos e as rotinas foram de um extremo ao outro. Agora, além de nos adaptar ao chamado novo normal, enfrentamos o desafio de processar os impactos de mudanças tão repentinas. Decerto, além da economia e da saúde física, é preciso balizar sobre os efeitos de uma crise sanitária mundial na saúde mental da população. A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), na Cartilha de Saúde Mental, afirma que metade das pessoas expostas a uma epidemia pode vir a sofrer com alguma complicação psicopatológica. O documento também aponta as reações mais frequentes, desenvolvidas no contexto de isolamento social, que provocam desgaste físico e mental.
Durante o primeiro ano da pandemia da Covid-19, as buscas no Google como “saúde mental na quarentena” aumentaram em 150%, em comparação ao mesmo período de 2019. No contexto de isolamento, os momentos de trabalho, lazer e descanso estão centralizados no mesmo lugar: nossa casa. Para quem mora com mais pessoas, os ambientes se tornam pequenos para tanta atividade simultânea. Por outro lado, quem mora só experimenta a solidão de dias que se repetem. No máximo, as companhias são os bichos de estimação, as plantas e as telas que os conectam ao mundo de fora.
O professor de Psicologia Social da Faculdade de Relações Trabalhistas e Recursos Humanos de Granada, na Espanha, Francisco Díaz Bretones explica em entrevista ao El País que o período de descanso e recuperação que a mente e o corpo necessitam entre uma atividade e outra se dissipa quando acordamos e deitamos pensando em trabalho. Para Bretones, o cansaço físico é mais facilmente recuperado do que o desgaste mental.
Segundo um estudo, publicado em junho de 2020, pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o home office é realidade para 20,8 milhões de brasileiros. Isso representa 22,7% dos postos de trabalho no país. Nem todos têm a mesma facilidade de adaptação ou conseguem manter o mesmo nível de rendimento que antes. Outro estudo publicado em maio de 2020 pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) aponta que 56% dos profissionais têm dificuldades em equilibrar atividades pessoais com o trabalho remoto na pandemia.
Identifique comportamentos
De forma prática, é possível reconhecer as reações que você tem desenvolvido e quais dificuldades estão presentes na sua realidade. Como também, identificar os pontos de satisfação no dia a dia ajuda a focar naquilo que precisa de maior atenção. Tire um momento para esta auto-análise.
A Cartilha de Saúde Mental da Fiocruz aponta como comportamentos frequentes:
- Falta ou excesso de apetite;
- Insônia, dificuldade para dormir ou sono em excesso, pesadelos recorrentes;
- Conflitos interpessoais (com familiares, equipes de trabalho…);
- Violência;
- Pensamentos recorrentes sobre a epidemia;
- Pensamentos recorrentes sobre a saúde da família;
- Pensamentos recorrentes relacionados à morte e ao morrer.
Veja as recomendações da cartilha que auxiliam no bem-estar mental durante este período:
- Reconhecer e acolher seus receios e medos, procurando pessoas de confiança para conversar;
- Investir em ações que auxiliem na redução do nível de estresse, como meditação, leitura, exercícios de respiração;
- Investir e estimular ações compartilhadas de cuidado, como solidariedade, cuidado familiar e comunitário;
- Reenquadrar os planos e estratégias de vida, de forma a seguir produzindo planos;
- Manter ativa a rede socioafetiva, estabelecendo contato, mesmo que virtual, com familiares, amigos e colegas;
- Evitar o uso de tabaco, álcool ou outras drogas para lidar com as emoções;
- Buscar um(a) profissional de saúde quando as estratégias utilizadas não estiverem sendo suficientes para sua estabilização emocional;
- Buscar fontes confiáveis de informação;
- Reduzir o consumo de coberturas midiáticas sobre a pandemia e demais assuntos que possam impactar negativamente o seu humor.
