A crise existencial me pegou, e agora?

Uma crise existencial é o sentimento de desconforto que muitas pessoas experimentam ao longo da vida. Esse sentimento abrange vários aspectos da vida como qual o sentido da existência, qual o sentido de tomar escolhas ou o que é a liberdade na vida. Uma crise existencial também pode levar a sentimentos de confusão sobre o senso de identidade de um indivíduo.

A ansiedade existencial tende a surgir durante momentos de transição e reflete uma dificuldade de adaptação, muitas vezes relacionada à perda de segurança. Alguns exemplos:

  • Mudança de carreira ou emprego;
  • Morte de um ente querido;
  • Diagnóstico de uma doença grave ou com risco de vida;
  • Entrando em uma categoria de idade significativa, como saída da adolescência, 40, 50 ou 65 anos;
  • Vivenciar uma experiência trágica ou traumática;
  • Ter filhos;
  • Casamento ou divórcio;

Durante uma crise existencial, a pessoa pode experimentar sintomas que afetam a saúde mental, como:

  • Ansiedade;
  • Depressão;
  • Sentimento de sobrecarga;
  • Isolamento do convívio social;
  • Energia baixa e desmotivação;
  • Preocupação excessiva;

Como lidar com uma crise existencial?

Para os existencialistas – aqueles que adotam uma filosofia focada em significado e propósito – uma crise existencial é considerada uma jornada, uma consciência, uma experiência necessária e um fenômeno complexo. Está relacionada a uma consciência dos limites últimos da vida, que são a morte e o acaso. 

Essa crise é uma ansiedade inevitável e não patológica, que, a maioria de nós, senão, todos nós, vamos experimentar. Por isso, é importante encontrar uma maneira de “conviver com” essa ansiedade em vez de eliminá-la. No entanto, é necessário adotar medidas propositivas para responder a uma crise como essa como por exemplo:

  • Anotar seus pensamentos sobre questões que te afligem e buscar você mesmo(a) desvendar as perguntas;
  • Procurar apoio, se esforçar para não se isolar dos seus amigos e familiares e conversar sobre os seus sentimentos;
  • Praticar a meditação. A meditação é uma ferramenta poderosa para quem busca trabalhar ansiedade e se localizar no tempo presente.

Mas lembre-se: se você percebe que sua crise está trazendo um sofrimento que você já não consegue gerenciar, procure um profissional em saúde mental como psicólogos e psiquiatras que sejam qualificados para te ajudar. 

Ansiedade, depressão, ou os dois?

Os termos “ansioso” e “deprimido” são muito usados com recorrência de forma informal. Isso ocorre porque, de fato, há semelhanças entre os dois estados. Esta maneira popular de se referir a essas emoções, se dá também por nossa própria experimentação no cotidiano: ansiedade e letargia são comuns em resposta a estressores da vida. 

A relação entre essas emoções – e suas condições clínicas associadas, transtornos de ansiedade e transtornos de humor – é complexa e um tanto específica.

Para uma pessoa, a ansiedade pode levar à evasão e ao isolamento. O isolamento pode resultar em falta de oportunidades para experiências prazeirosas, o que leva ao mau humor. 

Para outros, as emoções podem fluir na direção oposta. Sentir-se para baixo pode tirar a energia de alguém para fazer coisas que normalmente gosta, e as tentativas de se reencontrar com o mundo depois de perder a prática podem resultar em nervosismo.

Compreender as diferenças entre as duas emoções (ansiedade versus depressão) e caracterizar a gravidade do problema pode ajudá-lo a determinar como se sentir melhor.

A relação entre ansiedade e depressão

A ansiedade e a depressão compartilham uma base biológica. Estados persistentes de ansiedade ou humor deprimido envolvem alterações na função dos neurotransmissores. 

Embora os fundamentos biológicos desses problemas sejam semelhantes, a ansiedade e a depressão são vivenciadas de maneira diferente. Podemos considerá-los como dois lados da mesma moeda.

A ansiedade e a depressão podem ocorrer sequencialmente (uma em reação à outra), ou podem ocorrer simultaneamente. A seguir, veja diferenças entre os transtornos nos aspectos físico e mental.

Diferenças Mentais 

Depressão

  • A pessoa se sente sem esperança sobre si mesmo, os outros, o mundo
  • Acredita que não vale a pena tentar
  • Sente-se inútil
  • Pensa na morte porque crê que a vida não vale a pena ser vivida

Ansiedade

  • Preocupa-se com o futuro imediato ou a longo prazo
  • Tem pensamentos incontroláveis e acelerados
  • Evita situações que possam causar ansiedade
  • Pensa na morte devido ao perigo percebido

Diferenças físicas
Depressão 

  • Dificuldade de concentração, foco e memória devido pensamento ruminativo ou outros sintomas físicos
  • Falta de energia
  • Perda de apetite ou um aumento significativo no apetite
  • A pessoa se move ou fala mais devagar do que o habitual
  • Dor física sem causa
  • Dormir muito mais ou muito menos do que o normal devido a processos de pensamento ruminativo ou baixa energia

Ansiedade

  • Dificuldade de concentração devido ao estado de agitação ou pensamentos acelerados
  • Dificuldade em adormecer ou permanecer dormindo devido a pensamentos acelerados ou outros sintomas físicos
  • Tontura
  • Desconforto gastrointestinal (por exemplo, náusea, diarreia ou constipação)
  • Aumento da frequência cardíaca, pressão arterial, sudorese
  • Tensão muscular
  • Falta de ar

Tratamento

Mesmo se você decidir que seu problema de ansiedade ou humor é um problema de baixo grau para você, ainda vale a pena trabalhar. Considere o quanto isso está interferindo em sua vida, e de que maneira, para determinar que tipos de intervenções podem ser úteis.

Há abordagens psicoterápicas muito eficazes para esses problemas como a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) e a Psicanálise. É preciso buscar um profissional que irá acompanhar seu caso e indicar as melhores abordagens e, se necessário, medicações. 

Falar sobre suicídio não deve ser entendido como promovê-lo; conheça os sinais e supere os tabus 

A temática do suicídio é tão incômoda aos nossos ouvidos, tão perturbadora que, ao falarmos sobre, aparecem inúmeros sentimentos contraditórios. O Setembro Amarelo é a união de esforços para aproximar a sociedade da mensagem maior sobre o tema: a prevenção, o acalentar, o abraço, o cuidado consigo e com o outro.

Muitas pessoas acreditam que ao falar sobre suicídio, o número de casos aumenta, como se fosse um estímulo. É preciso dizer que até então não há nada que comprove essa repercussão negativa quando o cunho da mensagem é informativa. Ao contrário de quando o tema é abordado com morbidez, que realmente traz impacto negativo. Mas, o que é o suicídio, quais os sintomas e estígmas que precisamos superar?

O que é

O suicídio pode ser definido como um ato deliberado executado pelo próprio indivíduo, cuja intenção seja a morte, de forma consciente e intencional, mesmo que ambivalente, usando um meio que ele acredita ser letal. 

De acordo com boletim epidemiológico emitido pelo Ministério da Saúde em 2021: “entre 2010 e 2019, ocorreram no Brasil 112.230 mortes por suicídio, com um aumento de 43% no número anual de mortes, de 9.454 em 2010, para 13.523 em 2019. Análise das taxas de mortalidade ajustadas no período demonstrou aumento do risco de morte por suicídio em todas as regiões do Brasil.”. 

O suicídio é um comportamento com determinantes multifatoriais e resultado de uma complexa interação de fatores psicológicos e biológicos, inclusive genéticos, culturais e socioambientais. Deve ser considerado como o desfecho de uma série de fatores que se acumulam na história do indivíduo, não podendo ser considerado de forma causal e simplista apenas a determinados acontecimentos pontuais da vida do sujeito.

Sinais

Sentimentos de desesperança, desamparo e desespero são fortemente associados ao suicídio. É preciso estar atento, pois a desesperança pode persistir mesmo após a remissão de outros sintomas depressivos. Impulsividade, principalmente entre jovens e adolescentes, figura como importante fator de risco. A combinação de impulsividade, desesperança e abuso de substâncias pode ser particularmente letal. 

O suicídio em jovens aumentou em todo o mundo nas últimas décadas e também no Brasil, representando a terceira principal causa de morte nessa faixa etária no país. Os comportamentos suicidas entre jovens e adolescentes envolvem motivações complexas, incluindo humor depressivo, abuso de substâncias, problemas emocionais, familiares e sociais, história familiar de transtorno psiquiátrico, rejeição familiar, negligência, além de abuso físico e sexual na infância.

Os óbitos por suicídio são em torno de três vezes maiores entre os homens do que entre mulheres. Inversamente, as tentativas de suicídio são, em média, três vezes mais frequentes entre as mulheres. Papéis masculinos tendem a estar associados a maiores níveis de força, independência e comportamentos de risco. O reforço a esse papel de gênero muitas vezes impede os homens de procurar ajuda para os sentimentos suicidas e depressivos.

Estigmas

Diversos fatores podem impedir a detecção precoce e, consequentemente, a prevenção do suicídio. O estigma e o tabu relacionados ao assunto são aspectos importantes. Durante séculos de nossa história, por razões religiosas, morais e culturais, o suicídio foi considerado um grande “pecado”, talvez o pior deles. Por essa razão, ainda temos medo e vergonha de falar abertamente sobre esse importante problema de saúde pública.

 Os mitos mais comuns sobre o suicídio são os que se seguem: 

  • suicídio é uma decisão individual, já que cada um tem pleno direito a exercitar o seu livre arbítrio; 
  • quando uma pessoa pensa em se suicidar terá risco de suicídio para o resto da vida;
  • as pessoas que ameaçam se matar não farão isso, querem apenas chamar a atenção; 
  • se uma pessoa que se sentia deprimida e pensava em suicidar-se, em um momento seguinte passa a se sentir melhor, isso significa que o problema já passou; 
  • quando um indivíduo mostra sinais de melhora ou sobrevive à uma tentativa de suicídio, está fora de perigo; 
  • não devemos falar sobre suicídio, pois isso pode aumentar o risco; 
  • é proibido que a mídia aborde o tema suicídio. 

Orientações

Esse artigo inteiro é uma orientação de um novo olhar sobre os sofrimentos humanos que resultam no suicídio. Para amigos e familiares que são rede de apoio de alguém, tenha sempre em mente que a empatia é o principal condutor dessas situações. Para quem está passando na pele com sofrimentos mentais, saiba que você não está só. Busque um profissional da saúde mental e aceite o tratamento. 

Entenda a relação entre fibromialgia e depressão

A fibromialgia é uma síndrome que se manifesta em todo o corpo, principalmente na musculatura, causando fortes dores persistentes, rigidez corporal, fadiga, dificuldades cognitivas, distúrbios do sono, desregulação do intestino e, por consequência, comprometimento das atividades diárias. 

De acordo com estudos recentes citados em pesquisa da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), a fibromialgia acomete de 2 a 22% da população de todo o mundo, principalmente mulheres. No Brasil a prevalência da doença varia entre 2,5 a 4,4% da população, sendo a segunda maior causa de doença reumatológica depois da osteoartrose. 

Muitas vezes, o paciente com fibromialgia tratado na reumatologia, precisa de análise e acompanhamento psicológico. Isso porque a doença também está associada a depressão e ansiedade. 

O ciclo vicioso 

Além dos sintomas citados anteriormente, pessoas acometidas pela fibromialgia são mais sensíveis a estímulos que não são dolorosos para outras pessoas. Essas sensações incômodas desencadeiam problemas para dormir, dores de cabeça, sensibilidade a temperaturas, problemas de memória e dormência nos braços e pernas. Esse mal estar generalizado costuma ser responsável pelo desenvolvimento de depressão.

Por si só, a depressão já tem a capacidade de interferir nas relações interpessoais e comprometer a vitalidade de uma forma geral. Associada à fibromialgia, ela pode potencializar a frustração e o isolamento social, além de dificultar a adesão ao tratamento.

Tratamento conjunto

A fibromialgia não tem cura. Outro porém é que os medicamentos disponíveis no mercado apresentam eficácia clínica discreta, com função de controlar e amenizar as dores. 

A pessoa acometida deve fazer uma combinação de tratamentos diferentes: medicamentos para dor, antidepressivo, psicoterapia, mudança no estilo de vida e prática de exercício.  Este último é fundamental para a melhora da qualidade de vida do paciente. 

Importante salientar que médicos especializados devem ser buscados para as devidas orientações. E se você, ou alguém que você conhece, está passando por esse problema, saiba que todo problema, para ser enfrentado, é preciso ser falado. Busque se despir de preconceitos, converse com pessoas próximas e empáticas que darão o suporte necessário. 

A crise silenciosa da saúde mental dos homens

Um estudo sobre mortalidade por suicídio no Brasil, divulgado pela  Secretaria de Vigilância em Saúde no anos de 2019, traz o dado alarmante de que homens apresentam um risco 3,8 vezes maior de morte por suicídio do que mulheres. Esse resultado traz à tona o silenciamento entorno da questão: saúde mental do público masculino. Por que homens estão mais propensos ao suicídio e como podemos tratar a problemática?

De acordo com o mesmo estudo, os fatores associados à alta nos números indicam que os homens têm uma maior agressividade e maior intenção de morrer. Dentre as causas, o documento indica: “(…)maior acesso a armas de fogo e outros objetos letais, e maior suscetibilidade aos impactos de instabilidades econômicas entre homens. Essas pistas evidenciam que os padrões de masculinidade estão diretamente associados com a baixa busca por cuidados mentais. 

Em um outro estudo, publicado em 2021, os autores Silva e Melo explicam: “os homens parecem engajar-se em comportamentos como o abuso de álcool, a tomada exagerada de risco e a violência devido a um fenômeno descrito na psicanálise como “acting-out”.”. Em síntese, este fenômeno indica ações impulsivas que uma pessoa pode ter que contradizem seu comportamento comum. Geralmente, surgem agressivamente e são um sinal de algo recalcado, ou seja, algum sentimento/pensamento/desejo/problema evitado ou omitido por essa pessoa. 

Outro ponto que parece ser o maior impeditivo de homens buscarem ajuda para o sofrimento mental é a tendência em associar doença à fraqueza. Fica evidente que os homens continuam reféns dos padrões de masculinidade e isso os torna mais propensos a negligenciar a própria saúde. Nesses casos, o primeiro passo é olhar para si como um ser humano, sem rotulações, que precisa de cuidados e tomar o maior ato de coragem: falar sobre seus problemas e sentimentos. Para se sentir mais amparado, é ideal buscar uma rede de apoio, seja um amigo ou a própria família, e, sobretudo, um profissional da saúde mental para acompanhar o caso e ajudar na evolução do quadro.