A eletroconvulsoterapia é eficaz contra depressão e outros transtornos mentais; conheça o tratamento

Mais de 16,3 milhões de brasileiros sofrem com depressão, de acordo com dados da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) de 2019. Em relatórios anteriores, a Organização Mundial da Saúde já havia apontado o Brasil como o país com mais deprimidos da América Latina, com 5,8% da população diagnosticada com a doença. O avanço de doenças como a depressão é assustador – isso sem mencionar os casos não diagnosticados – mas a medicina avança com recursos terapêuticos cada vez mais eficazes e seguros. 

Nesse sentido, a Eletroconvulsoterapia (ECT) é um dos procedimentos mais antigos da medicina, com início datado em uma era pré-psicofarmacológica, na década de 30 do século 20. Quando comparado até mesmo com tratamentos mais modernos, a ECT se equivale como um dos mais eficazes e seguros. Isso pode ser demonstrado com a quantidade de indicações nas principais diretrizes de tratamento do mundo inteiro.

No tratamento da depressão, a ECT tem um papel central nos pacientes mais graves. Sob o procedimento, a probabilidade de remissão da doença, ou seja, de que um paciente deixe de apresentar sintomas depressivos, em duas semanas, é de 34%. Se estendermos para quatro semanas, o número aumenta para 75%. A ECT se mostra excelente para aqueles pacientes que estão em catatonia, inanição, ou que não podem esperar por uma melhora como aqueles com ideação suicidas. 

Isso ocorre porque a ECT promove uma reorganização do cérebro por meio da liberação dos principais neurotransmissores relacionados aos transtornos mentais, como a serotonina, noradrenalina, dopamina e glutamato. Ao contrário do que diz o senso comum, a ECT é um tratamento seguro e bem tolerado. Por muito tempo, o tratamento foi incompreendido e equivocadamente atrelado à métodos de tortura aplicados durante a ditadura militar do Brasil.  

Hoje, um procedimento de ECT é realizado com o paciente anestesiado e medicado com relaxante muscular. Portanto, durante a sessão, a pessoa estará dormindo. Do ponto de vista motor, aquelas convulsões dramatizadas em filmes não ocorrem mais. No entanto, o efeito acontece do ponto de vista neurológico. Além de pacientes com depressão, o ECT é indicado para psicoses, epilepsia e parkinson. 

Quanto aos efeitos colaterais são característicos pós-procedimento: dor de cabeça, dor muscular e amnésia. Esta amnésia é referente a fatos e memórias posteriores ao tratamento. O paciente não esquece memórias do passado, mas, é possível que memórias produzidas durante o tratamento sejam esquecidas. No entanto, este efeito regride ao longo das sessões, e raramente permanece ao longo dos meses.

É consenso na medicina que a eletroconvulsoterapia não deve ser usada como primeiro recurso em um tratamento, por outro lado, estudo publicado na JAMA Psychiatry, em 2018, sugere que a terapia deve ser lembrada ao paciente como uma possibilidade após duas tentativas sem sucesso de tratamento com medicamentos. Em entrevista ao G1, Eric Ross, principal autor do estudo e pesquisador da Faculdade de Medicina da Universidade de Michigan, diz: “Embora a escolha do tratamento seja pessoal, nosso estudo sugere que a eletroconvulsoterapia deve estar na mesa como uma opção realista logo na terceira rodada de tratamento”.