Eu tenho TDAH ou sou preguiçoso? Como o transtorno causa problemas de motivação

O transtorno de déficit de atenção/hiperatividade (TDAH) é uma condição do neurodesenvolvimento caracterizada por sintomas de hiperatividade, impulsividade e desatenção. Infelizmente, adultos e crianças com TDAH são frequentemente rotulados como desmotivados, preguiçosos ou até apáticos. Esses rótulos negativos são injustos e prejudiciais.

Em vez de simples preguiça ou falta de motivação, essa “imobilidade” ou “lentidão” geralmente reflete as deficiências na funções executivas que podem estar associadas ao TDAH. Compreender essas deficiências é importante para corrigir preconceitos comuns sobre o TDAH.

TDAH e função executiva

Os déficits das funções executivas afetam a capacidade de uma pessoa de iniciar, organizar e manter o esforço em uma tarefa. A pessoa pode até experimentar uma sensação de paralisia associada a uma tarefa ou projeto – querendo começar, mas incapaz de progredir de qualquer maneira.

Essas diferenças na função executiva afetam a pessoa com TDAH, mas também podem resultar em reações negativas de outras pessoas que ficam confusas e frustradas com as inconsistências da pessoa com TDAH, tendo em vista que ela é capaz de realizar bem quando a tarefa é estimulante e interessante ou quando é novidade, mas não funciona tão bem quando a tarefa é tediosa ou repetitiva. 

Embora as pessoas com TDAH geralmente sejam boas em tomar decisões rápidas no momento, elas podem ter dificuldades quando estão trabalhando em tarefas que exigem organizar muitas informações. Elas podem se sentir atoladas. Descobrir como e por onde começar pode parecer impossível.

Tédio e motivação

Outro fator é o tédio e a motivação. O tédio resulta em todos os tipos de problemas para crianças e adultos com TDAH. Manter o foco em uma tarefa chata pode parecer quase impossível, pois sua atenção se desvia para atividades e pensamentos mais interessantes.

O que também pode acontecer é que, após repetidas frustrações, a criança ou adulto com TDAH pode começar a se sentir menos motivado. Pode ser difícil ficar animado e esperançoso sobre algo e depois cair de novo e de novo. A pessoa com TDAH sofre impactos na vida como um todo. As crianças, especialmente na escola e os adultos, no trabalho.

Romper tabus 

Rotular as pessoas com TDAH como “preguiçosas” contribui para o estigma da saúde mental. Os sintomas do TDAH não são causados pela preguiça.

Se você está tendo dificuldade em se manter motivado,  busque conversar com um médico psiquiatra para uma avaliação e aconselhamento mais precisos. 

Falar sobre suicídio não deve ser entendido como promovê-lo; conheça os sinais e supere os tabus 

A temática do suicídio é tão incômoda aos nossos ouvidos, tão perturbadora que, ao falarmos sobre, aparecem inúmeros sentimentos contraditórios. O Setembro Amarelo é a união de esforços para aproximar a sociedade da mensagem maior sobre o tema: a prevenção, o acalentar, o abraço, o cuidado consigo e com o outro.

Muitas pessoas acreditam que ao falar sobre suicídio, o número de casos aumenta, como se fosse um estímulo. É preciso dizer que até então não há nada que comprove essa repercussão negativa quando o cunho da mensagem é informativa. Ao contrário de quando o tema é abordado com morbidez, que realmente traz impacto negativo. Mas, o que é o suicídio, quais os sintomas e estígmas que precisamos superar?

O que é

O suicídio pode ser definido como um ato deliberado executado pelo próprio indivíduo, cuja intenção seja a morte, de forma consciente e intencional, mesmo que ambivalente, usando um meio que ele acredita ser letal. 

De acordo com boletim epidemiológico emitido pelo Ministério da Saúde em 2021: “entre 2010 e 2019, ocorreram no Brasil 112.230 mortes por suicídio, com um aumento de 43% no número anual de mortes, de 9.454 em 2010, para 13.523 em 2019. Análise das taxas de mortalidade ajustadas no período demonstrou aumento do risco de morte por suicídio em todas as regiões do Brasil.”. 

O suicídio é um comportamento com determinantes multifatoriais e resultado de uma complexa interação de fatores psicológicos e biológicos, inclusive genéticos, culturais e socioambientais. Deve ser considerado como o desfecho de uma série de fatores que se acumulam na história do indivíduo, não podendo ser considerado de forma causal e simplista apenas a determinados acontecimentos pontuais da vida do sujeito.

Sinais

Sentimentos de desesperança, desamparo e desespero são fortemente associados ao suicídio. É preciso estar atento, pois a desesperança pode persistir mesmo após a remissão de outros sintomas depressivos. Impulsividade, principalmente entre jovens e adolescentes, figura como importante fator de risco. A combinação de impulsividade, desesperança e abuso de substâncias pode ser particularmente letal. 

O suicídio em jovens aumentou em todo o mundo nas últimas décadas e também no Brasil, representando a terceira principal causa de morte nessa faixa etária no país. Os comportamentos suicidas entre jovens e adolescentes envolvem motivações complexas, incluindo humor depressivo, abuso de substâncias, problemas emocionais, familiares e sociais, história familiar de transtorno psiquiátrico, rejeição familiar, negligência, além de abuso físico e sexual na infância.

Os óbitos por suicídio são em torno de três vezes maiores entre os homens do que entre mulheres. Inversamente, as tentativas de suicídio são, em média, três vezes mais frequentes entre as mulheres. Papéis masculinos tendem a estar associados a maiores níveis de força, independência e comportamentos de risco. O reforço a esse papel de gênero muitas vezes impede os homens de procurar ajuda para os sentimentos suicidas e depressivos.

Estigmas

Diversos fatores podem impedir a detecção precoce e, consequentemente, a prevenção do suicídio. O estigma e o tabu relacionados ao assunto são aspectos importantes. Durante séculos de nossa história, por razões religiosas, morais e culturais, o suicídio foi considerado um grande “pecado”, talvez o pior deles. Por essa razão, ainda temos medo e vergonha de falar abertamente sobre esse importante problema de saúde pública.

 Os mitos mais comuns sobre o suicídio são os que se seguem: 

  • suicídio é uma decisão individual, já que cada um tem pleno direito a exercitar o seu livre arbítrio; 
  • quando uma pessoa pensa em se suicidar terá risco de suicídio para o resto da vida;
  • as pessoas que ameaçam se matar não farão isso, querem apenas chamar a atenção; 
  • se uma pessoa que se sentia deprimida e pensava em suicidar-se, em um momento seguinte passa a se sentir melhor, isso significa que o problema já passou; 
  • quando um indivíduo mostra sinais de melhora ou sobrevive à uma tentativa de suicídio, está fora de perigo; 
  • não devemos falar sobre suicídio, pois isso pode aumentar o risco; 
  • é proibido que a mídia aborde o tema suicídio. 

Orientações

Esse artigo inteiro é uma orientação de um novo olhar sobre os sofrimentos humanos que resultam no suicídio. Para amigos e familiares que são rede de apoio de alguém, tenha sempre em mente que a empatia é o principal condutor dessas situações. Para quem está passando na pele com sofrimentos mentais, saiba que você não está só. Busque um profissional da saúde mental e aceite o tratamento. 

A crise silenciosa da saúde mental dos homens

Um estudo sobre mortalidade por suicídio no Brasil, divulgado pela  Secretaria de Vigilância em Saúde no anos de 2019, traz o dado alarmante de que homens apresentam um risco 3,8 vezes maior de morte por suicídio do que mulheres. Esse resultado traz à tona o silenciamento entorno da questão: saúde mental do público masculino. Por que homens estão mais propensos ao suicídio e como podemos tratar a problemática?

De acordo com o mesmo estudo, os fatores associados à alta nos números indicam que os homens têm uma maior agressividade e maior intenção de morrer. Dentre as causas, o documento indica: “(…)maior acesso a armas de fogo e outros objetos letais, e maior suscetibilidade aos impactos de instabilidades econômicas entre homens. Essas pistas evidenciam que os padrões de masculinidade estão diretamente associados com a baixa busca por cuidados mentais. 

Em um outro estudo, publicado em 2021, os autores Silva e Melo explicam: “os homens parecem engajar-se em comportamentos como o abuso de álcool, a tomada exagerada de risco e a violência devido a um fenômeno descrito na psicanálise como “acting-out”.”. Em síntese, este fenômeno indica ações impulsivas que uma pessoa pode ter que contradizem seu comportamento comum. Geralmente, surgem agressivamente e são um sinal de algo recalcado, ou seja, algum sentimento/pensamento/desejo/problema evitado ou omitido por essa pessoa. 

Outro ponto que parece ser o maior impeditivo de homens buscarem ajuda para o sofrimento mental é a tendência em associar doença à fraqueza. Fica evidente que os homens continuam reféns dos padrões de masculinidade e isso os torna mais propensos a negligenciar a própria saúde. Nesses casos, o primeiro passo é olhar para si como um ser humano, sem rotulações, que precisa de cuidados e tomar o maior ato de coragem: falar sobre seus problemas e sentimentos. Para se sentir mais amparado, é ideal buscar uma rede de apoio, seja um amigo ou a própria família, e, sobretudo, um profissional da saúde mental para acompanhar o caso e ajudar na evolução do quadro.  

Como encarar o mundo depois do diagnóstico?

Um diagnóstico pode ter o efeito de causar alívio por finalmente compreender o que está acontecendo com uma pessoa. No entanto, nos casos de diagnósticos psiquiátricos, o que se observa é um movimento contrário nos pacientes e nas pessoas ao redor. Isso ocorre, sobretudo, por causa da estigmatização.

Erroneamente, as pessoas são taxadas a partir do seu diagnóstico como “bipolar”, “esquizofrênico”, “depressivo”, “doente mental”. Esses termos devem ser eliminados do vocabulário da sociedade porque além de perversos, eles reduzem toda a riqueza e complexidade de um indivíduo e impedem que o debate sério sobre saúde mental avance. 

O que é um diagnóstico?

O diagnóstico é um estudo minucioso sobre sintomas manifestados em cada paciente. “Achar” uma doença ou um quadro clínico significa ter mais assertividade no tratamento e oferecer maiores chances ao paciente. Importante ressaltar que esse processo analítico é estritamente cabível a um especialista. Então, não adianta fazer um autodiagnóstico e, por consequência, uma automedicação, pois cada caso é único.

A diagnose de um paciente psiquiátrico, por exemplo, pode levar um certo tempo para ser concluída.  O médico psiquiatra deve detalhar toda a história de vida do paciente, esmiuçar crises, eventos e situações. 

Então, o que fazer após receber o diagnóstico?

Você continua sendo a mesma pessoa que era 10 minutos antes do diagnóstico. São os mesmos medos, desejos, personalidade, planos, gostos, relações e todo o conjunto de significados que você construiu ao longo da vida. 

Outro entendimento é a colaboração com o tratamento indicado pelo psiquiatra. Terapias, medicamentos, novo estilo de vida, hábitos alimentares…tudo isso feito sob orientação adequada pode trazer maior bem-estar para pacientes psiquiátricos. 

Ademais, é importante olhar o diagnóstico com mais humanidade e aceitá-lo com uma parte sua, um adicional às suas características, não é um todo. Você não “É isso”, você lida com isso, é uma pessoa com determinada condição. Uma palavra sozinha não consegue definir quem você é em completude.

TDAH na vida adulta: conheça os sintomas, sinais e tratamentos

É comum atrelar o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) às crianças, mas há uma enorme quantidade de adultos que manifestam a condição e sofrem com impactos no trabalho, nas relações afetivas e em toda a esfera social. Muitas vezes, esse adulto não entende o porquê de ter uma vida tão atribulada, isso ocorre porque essa população é subnotificada. O TDAH é um transtorno neuropsiquiátrico que afeta cerca de 2 milhões de brasileiros, segundo dados da Associação Brasileira do Déficit de Atenção (ABDA)

O TDAH não está ligado a fatores culturais ou conflitos psicológicos, mas sim a pequenas alterações na região frontal do cérebro, responsável pela inibição do comportamento e do controle da atenção. Em adultos, é caracterizado por um padrão persistente de desatenção, hiperatividade e/ou impulsividade que interfere e afeta o trabalho, a vida doméstica e os relacionamentos – especialmente se não for tratado. 

Os sintomas na vida adulta

Os sintomas de TDAH ou ADD em adultos se assemelham amplamente aos sinais comuns de TDAH na infância. No entanto, sabe-se que a intensidade dos sintomas – especialmente hiperatividade – diminui ao longo do tempo para muitos indivíduos.

  • Desatenção
  • Pouca atenção aos detalhes
  • Dificuldade para começar e concluir tarefas
  • Dificuldade em focar e regular a atenção
  • Esquecimento
  • Má gestão do tempo
  • Impulsividade
  • Inquietação
  • Interrompe-se com frequência
  • Fala excessivamente
  • Desregulação emocional
  • Baixa tolerância à frustração

Desafios associados ao TDAH em adultos

O TDAH adulto afeta praticamente todos os aspectos da vida, mais ainda se a condição permanecer sem diagnóstico, não tratada ou tratada de forma ineficaz – tudo isso pode ter efeitos prejudiciais no bem-estar psicológico e na qualidade de vida de um indivíduo.

1- No desempenho escolar e no trabalho:

Sintomas de TDAH em adultos, como má gestão do tempo e concentração, procrastinação e esquecimento, podem dificultar a trajetória e permanência na escola/faculdade e no local de trabalho. 

2- Nos relacionamentos:

Os sintomas de TDAH em adultos, como habilidades de escuta deficientes, baixa tolerância à frustração, incapacidade de realizar tarefas e impulsividade, podem levar a várias dificuldades com relacionamentos românticos, amizades, relacionamentos familiares e outras conexões sociais.

3- Propensão à criminalidade e segurança

Um estudo publicado na revista internacional JAMA Psychiatry vinculou o TDAH em adultos à criminalidade, quebra de regras e outros problemas legais e de segurança – incluindo maior risco de se envolver em acidentes de carro em comparação com a população em geral. 

4- No abuso de substâncias

TDAH e abuso de substâncias estão fortemente conectados. Adultos com TDAH têm duas vezes mais chances de serem diagnosticados com transtorno por uso de substâncias em comparação com indivíduos sem TDAH. Muitos adultos com TDAH relatam o uso de substâncias como álcool e outras drogas como forma de automedicação e controle dos sintomas de TDAH.

5 –  Comorbidades

O TDAH no adulto raramente existe sozinho. Aproximadamente 60% a 70% dos adultos com TDAH têm um transtorno comórbido. De acordo com um estudo de 2006 sobre TDAH em adultos:

  • Cerca de 40% foram diagnosticados com um transtorno de humor;
  • Quase 50% foram diagnosticados com transtorno de ansiedade, incluindo fobia social (30%) e transtorno do estresse pós-traumático (12%);
  • Cerca de 15% também têm diagnóstico de transtorno por uso de substâncias;

O que causa o TDAH?

Não está totalmente claro, mas a maioria das pesquisas sugere esses três fatores principais:

  • Genética ou Hereditariedade: O TDAH é uma condição altamente hereditária. Aproximadamente metade dos pais com TDAH terá um filho com a doença.
  • Fatores ambientais: Estudos sugerem que a exposição ao estresse extremo, trauma ou certas toxinas – como chumbo ou bisfenol – aumentam o risco ou a gravidade dos sintomas de TDAH.
  • Interrupção do Desenvolvimento: Lesão cerebral ou eventos que afetam o sistema nervoso central durante o desenvolvimento, como parto prematuro ou uso de álcool durante a gravidez, podem ter um papel importante no desenvolvimento do TDAH.

Diagnóstico 

O  Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-V) lista nove sintomas que sugerem TDAH predominantemente desatento e nove sintomas separados que sugerem TDAH predominantemente hiperativo-impulsivo. Um adulto pode ser diagnosticado com qualquer subtipo se apresentar pelo menos cinco dos nove sintomas em dois ou mais ambientes – no trabalho e em casa, por exemplo – por pelo menos seis meses. É preciso uma avaliação médica especializada para concluir o diagnóstico. 

Tratamento 

O melhor tratamento para o TDAH adulto é uma combinação de terapia e medicação. Os adultos devem trabalhar em estreita colaboração com seus médicos para ajustar a medicação e a dosagem e encontrar a combinação certa de tratamento do TDAH para aliviar os sintomas.