Banalização de doenças mentais na internet dificulta diagnóstico e gera desinformação

Com a expansão do diálogo nas redes sociais sobre transtornos psiquiátricos  e saúde mental , a linguagem se alimenta de termos clínicos para se referir a situações cotidianas. “É bipolar”, fala-se para qualquer alteração de humor, “estou depressivo” quando na verdade está passando por um sofrimento circunstancial, ou “ela tem TOC” só porque a pessoa é metódica. Estes são exemplos de banalizações de doenças cujos sintomas são permanentes e incapacitantes. 

Parte dessas colocações inapropriadas se deve à exigência de que as pessoas apresentem sempre a sua “melhor forma” socialmente. Isso faz com que oscilações naturais do  comportamento humano e muitas emoções negativas sejam encaradas como problemas inaceitáveis que devem logo ser erradicados. A banalização se torna mais perigosa ainda quando indivíduos saudáveis são incapazes de entender a intensidade  do sofrimento de quem realmente  enfrenta algum transtorno mental.

A facilidade de acesso a informações, criações de conteúdo e memes sobre temas como depressão e tantos outros quadros psiquiátricos  ajudam a diminuir o estigma de assuntos sensíveis como esses, mas podem contribuir para disseminar informações desqualificadas. Além disso, um outro efeito comum é achar que por saber características e sintomas de determinadas doenças, a pessoa tem domínio para o autodiagnóstico.

Aqui no site já trouxemos a problemática do autodiagnóstico em textos anteriores. Leia também:

Glamourização 

Outra face da banalização e estigma dos transtornos mentais é a abordagem glamourizada e romantizada dada em produções de mídias audiovisuais. É comum dentro de uma narrativa, o personagem com transtorno mental viver um grande amor que o cura ou ter um desfecho mágico e repentino. Essas coisas não são experienciadas na vida real. Diagnóstico e tratamento para transtornos mentais são individualizados e precisam de  acompanhamento sério e responsável por parte do psiquiatra e do psicólogo,  sendo muitas vezes necessário o uso de medicamentos, adequação de doses e até mesmo combinação entre substâncias diferentes, além de uma dedicação ao processo psicoterápico. 

Depressão atingirá mais pessoas

Enquanto a sociedade custa em acolher com seriedade as doenças mentais, em outra camada, o sofrimento cresce. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), os transtornos mentais serão a principal causa de incapacidade  no mundo em 2030. Atualmente, a organização avalia que 300 milhões de pessoas no mundo estejam incapacitadas pela depressão. Além disso, cerca de 60 milhões de pessoas no mundo sofrem com transtorno afetivo bipolar. Já a esquizofrenia afeta em torno de 23 milhões de pessoas em todo o planeta.